O corpo pesava quando acordara. O
peso do corpo, no entanto, refletia a intensa dor de ter um dente quebrado ao
meio. José acordou no meio da noite com uma crise alérgica e sudorípara. Espirava
aos borbotões e aquele caldo espesso e incolor escorria pelas suas narinas, se
expandiam pelo cobertor. Levantou. Cuspiu no vaso sanitário e persistiu no
sono. Logo depois de ter abortado a inglória missão de abraçar os pesadelos que
se certamente descortinariam seu sono, levantou. José sentia que não sabia
definir se sentia ódio às avessas, se agonia inversa ou desespero. Abriu a mão e segurou entre os dedos quatro
comprimidos de calmantes diversos e coloridos. Parecia que aquele momento escorria
pela realidade e efetivava-se num paralelo lisérgico qualquer.
José acordou, levantou e sentia
uma dor de cabeça. Na porta alguém chamava, era alguém difícil, era um estranho
de cor amarela esverdeada, a luz não deixava José perceber, mas o dente ao meio
parecia ser o único encravado em sua boca, era forte, intenso e não se deixava
esquecer. Aquele homem entrou na penumbra da sua casa, não era um ser
agradável, seu corpo era de fato deformado inconcluso, quase obtuso. A garganta
de José também começara a arder, uma nuvem de poeira subia, o seu espaço já não era. José tinha a boca agora aberta, seu dente latejava, sua garganta postulava,
precisava voltar a ser o que escondia.
O estranho pisou no corpo fragilizado
de José e escrevia como uma caneta vermelha palavras que não compreendia, aquele ser de corpo
deformado agora prendia as mãos e o esmurrava. José não conseguira ver os
olhos, mas os percebia vermelho em fogo. José sentia que precisava e que tendia
a morte e não......