Lera
que toda a concretização do erotismo tem por fim atingir o mais íntimo do ser,
no ponto em que o coração nos falta. Ficou pensando naquilo por tempos. E a
citação não parava por aí, seguia, como que diluindo-a: toda concretização
erótica tem por princípio uma destruição da estrutura do ser fechado que é, no
estado normal, um parceiro do jogo. Ela era o ser fechado. Ela era a estrutura
a ser destruída. Ela era a que no jogo do amor sujava as mãos, mas apassivava-se,
como que destruída mesmo, como que abatida. E foi por isso que disse que
naquele momento não havia nada a dizer.
E
não cabiam palavras, pois havia a nudez. Havia a nudez dele. A nudez que ela já
sonhara e que uma noite pensou até em mordê-la. Comer aquela nudez pra que o
gosto de tudo lhe ficasse também por dentro quando tudo acontecesse. E havia a
nudez dela. A nudez era, ali, um estado de comunicação: era um desapossar-se
para entrar numa desordem do corpo que já não era mais conforme de si, mas uma oferenda.
Ela, estrutura a ser destruída, era o sacrifício. Ela queria se dar. Ela se
dava.
E
por isso seu rosto ficou rubro. E por isso as mãos foram em concha para a cara.
E por isso, minutos antes, ficara atordoada sem saber como reagir à
possibilidade de um beijo. Não, ela não era mais uma menina de quinze anos. E
aquilo não era um comportamento regressivo. Era o pressentimento de uma
concretização: era a primeira vez, em anos, que ela dava passagem para o tão
íntimo de si até onde o coração faltava. Sim, ela se dera. E fora cravada,
atingida, abatida: o que lhe era rígido, de pedra, estrutura fechada, foi
destruído. Não havia nada para dizer. Tudo ia ser pouco.
Quando se despediram, ela pensou que ia doer-lhe a descontinuidade. Porém, enquanto ele descia as escadas, ela olhava pelo olho mágico sua imagem diminuindo, sumindo, sem promessas, sem direção para um futuro que não fosse o desejo de boa sorte – dela para ele - e de adeus – dele para ela. Uma canção tocava ao longe – ela mesma escolhera - e um acontecimento urgente se dava: ela nascia. Ela nascia outra. Houve então a concretização: a destruição do que era fechado e rígido e que ninguém rompia há tempos porque ela mesma não permitia. Ela que nascera para as aberturas. E que sabia que isso lhe causava chagas. Mas seria assim sempre. E não havia nada para dizer. E isso era muito.
Quando se despediram, ela pensou que ia doer-lhe a descontinuidade. Porém, enquanto ele descia as escadas, ela olhava pelo olho mágico sua imagem diminuindo, sumindo, sem promessas, sem direção para um futuro que não fosse o desejo de boa sorte – dela para ele - e de adeus – dele para ela. Uma canção tocava ao longe – ela mesma escolhera - e um acontecimento urgente se dava: ela nascia. Ela nascia outra. Houve então a concretização: a destruição do que era fechado e rígido e que ninguém rompia há tempos porque ela mesma não permitia. Ela que nascera para as aberturas. E que sabia que isso lhe causava chagas. Mas seria assim sempre. E não havia nada para dizer. E isso era muito.
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